Ideologia e vergonha na cara

Minha primeira experiência jornalística realmente profissional foi num semanário "de resistência" chamado Movimento, publicado durante o regime militar brasileiro. Este senhor da foto foi meu primeiro patrão - Raimundo Rodrigues, a quem agradeço até hoje a chance de me deixar mostrar o que podia fazer, ainda muito jovem.

Nunca mais ouvi falar do "Raimundão" até a última edição da revista Veja, ainda nas bancas. Numa matéria sobre as escandalosas indenizações que estão sendo concedidas às "vítimas da ditadura", fiquei sabendo que meu ex-editor teria direito à sua parte nessa farra com dinheiro público. Mas se nega a entrar com processo indenizatório junto à Comissão de Anistia.

Visto à distância, o Movimento parece um panfleto esquerdista. E eu discordo hoje de todo o ranço ideológico que marcou a atuação de Raimundo Pereira e seu grupo na época. Mas ideologia à parte, essa recusa à mamata mostrou muita dignidade do meu ex-chefe. E eu me sinto orgulhoso dele.

O mesmo não se pode dizer de pilantras da midia que resolveram enriquecer às nossas custas. Os casos mais em evidência atualmente são de dois profissionais que aprendi a admirar muito nos velhos tempos - os humoristas Jaguar e Ziraldo. Cada um está levando uma bolada de um milhão de reais para casa fora uma pensão vitalícia de 4 mil reais. Ziraldo, Jaguar e o escritor Carlos Heitor Cony representam a falta absoluta de princípios éticos dos tempos em que vivemos hoje no Brasil.

O escritor Millôr Fernandes resume bem o descaramento dessa gentinha oportunista: "Eu pensava que eles estavam defendendo uma ideologia, mas estavam fazendo um investimento".

Comentários

Ricardo Soares disse…
não só esse é um belo post como prova muita nobreza de vossa parte ao superar suas restrições ideológicas e elogiar um gesto nobre do Raimundão... congratulações meu amigo
abraço

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