1962: a vida aos 9 anos



1962 foi um ano inesquecível. Meu pai enfrentou um período mais difícil e eu saí do ótimo curso primário (pago) para uma medíocre escola pública - onde tirei essa foto "oficial". Foi um choque de realidade. E também a melhor educação que eu podia ter por um ano: conviver com engraxates, favelados e futuras empregadas domésticas. No ano seguinte meu pai melhorou de vida e eu voltei para o Nossa Senhora das Graças.


1962 foi também o ano em que eu tentei ser católico. Vinha de família espírita-kardecista e no ano anterior fiz minha primeira comunhão. Resolvi freqüentar uma igreja do bairro, para cumprir os rituais. Logo no primeiro dia em que tentei me confessar o padre me atendeu com o rosto vermelho, os olhos inchados e trocando o passos. Aquele bebum de batina pretendia cuidar da vida espiritual de um garoto de 9 anos? Desisti.


Em 1962 o Brasil ganhou a Copa do Mundo no Chile e eu nunca mais torceria pela seleção como naquele ano, na mais completa inocência e devoção, com a orelha grudada no radio de pilha Spica. Assistia Pullman Junior, National Kid, Rin-Tin-tin, Pernalonga e Vigilante Rodoviário na TV. Não tinha a menor idéia que a humanidade corria risco sério de aniquilação por causa da crise dos mísseis em Cuba. Em 1962 meu foco estava no próximo episódio do Zorro ou Jet Jackson. Na mesa, me espera um Choco-Milk bem geladinho e o prato de rosquinhas que minha avó Consuelo mergulhava no açucar e na canela.

Comentários

Anônimo disse…
Dago
...em busca do tempo perdido.Até as rosquinhas...risos.
ab
joão antonio

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