Eu, Dagomir M., 15 anos, censurado e perseguido

Em 1968, aos 15 anos de idade, eu tive o grande privilégio de ser aluno de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro: Jorge Andrade. Ele pediu a cada um da classe uma pequena peça de teatro baseada num conto de Clarice Lispector. E eu apareci com a provocadora "Conscientização on the Rocks". 


"Conscientização" e outras duas das peças foram escolhidas para serem encenadas no encerramento do ano letivo. Seria minha estréia como dramaturgo. Poderia se tornar um momento único na vida de um nascente escritor: ter a primeira peça dirigida pelo mito Jorge Andrade. Mas o momento não aconteceu. O colégio foi invadido pelas forças do regime militar e minha peça levada como prova de atividade subversiva. Algum tempo depois dois militares à paisana apareceram em casa para me levar até a sede do Segundo Exército. 


Por um quase milagre, eu guardei uma cópia (mimeografada) de "Conscientização on the Rocks". É um retrato meio exagerado e melodramático de uma era. Hoje eu leio como se dialogasse comigo mesmo aos 15 anos de idade. Antes da peça propriamente dita eu escrevi um prefácio sobre os detalhes históricos e pessoais dessa experiência meio surrealista. Para ler Conscientização on the Rocks, clique aqui

Jorge Andrade
(1922 - 1984)

Comentários

A introdução ao texto mostra que, se talvez uma autobiografia sua não seja nunca publicada, deveria, porque, somada a outros relatos que já li por aqui, há história para contar. Tenho certeza que você já deve ter pensado nisso e até suponho que existam rascunhos a respeito. Num mundo em que sites como lulu.com estão disponíveis, não há por que não fazê-lo!
Rogerio Naccache disse…
Sua introdução ao texto da peça está entre as coisas mais legais que voce escreveu na vida.
Dagomir Marquezi disse…
Alexandre: você adivinhou. Se o Justin Bieber pode por que não eu? Já está a caminho.

Rogerio: obrigado, parceiro...
Leiner disse…
Tovarich,
Primeiro, é otimo ver o material escaneado, lembrar dos tipos tortos da maquina de escrever...
Depois, lembrar do Jorge Andrade e ai lembrar tambem do Luis Carlos Arutim, que fazia a mesma coisa em Barretos, teatro subversivo...
Depois,ver o texto em si, e lembrar que outro dia abri um bau tambem e tive esse mesmo papo comigo mesmo pirralho...e tambem consegui ser generoso e critico ao mesmo tempo.
Abrir baus as vezes é muito bom e os coelhos as vezes saem saltando como se fosse agora...
Dagomir Marquezi disse…
Tovarich Henrique: boa lembrança a do Arutim, que eu conheci pouco, mas admirava muito também. Eu tenho ainda muitas coisas no baú dessa época. Nada como encarar nosso passado de frente, sem mistificação nem medo. Abração prá você. D
www.gvive.org disse…
Oi Dagomir.
A GVive recebeu a documentação da professora Edneth Sanches ex diretora da Unidade vocacional de Rio Claro (recém falecida)
As 15 caixas de documentos sobreviveram a invasão ocorrida em 12/12/1969... e serão repassadas ao Centro de Memoria da FEUSP para higienização, catalogação e depois abertas ao público para pesquisa.
Em uma das caixas encontramos 3 textos de teatros um deles escrito por Dagomir Marquesi e outro por Bety Portnoi nossa colega da turma de 64.
Abraços
Luigy
www.gvive.org disse…
eh justamente est peça.

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