A noite em que eu toquei com Dave Brubeck


Conheci Dave Brubeck ainda adolescente ouvindo o álbum Time Further Out sem parar. Ali estava tudo o que eu desejava num disco de jazz: criatividade, sofisticação, bom humor. Eu viajava naquela capa cheia de números de Juan Miró e me sentia o rei dos cool cats.

Uma das músicas do disco era um desafio para bateristas em potencial: Unsquare Dance. Uma peça em 7/4 marcada por uma batida de palmas que o próprio compositor definia como "enganadoramente simples", especialmente no final. Decidi que jamais erraria as palmas de Unsquare Dance. "Se um dia o Dave Brubeck me chamar para tocar com ele, eu não quero fazer feio" - era minha fantasia jazzística favorita de adolescente.

Corta para vinte anos depois. Estou no Rio de Janeiro com minha amiga Renata Azevedo. Brubeck vai tocar no Municipal. Compramos poltronas bem no centro da primeira fila, a 3 metros do piano. 

Brubeck toca seus clássicos (Take Five, Blue Rondo a la Turk, It's a Raggy Waltz, etc). Chega a hora de Unsquare Dance. Na banda não tem ninguém para bater palmas. É a minha fantasia, realizada. Eu, na primeira fila, marco o ritmo o mais alto possível, sem medo de ser inconveniente. Vou até o fim. Não erro. Após a última nota, em meio aos aplausos para o quarteto, Dave Brubeck olha para mim. E manda um "positivo" de aprovação.

Moral da história: esteja preparado. Para tudo. Obrigado, Mr Brubeck (1920-2012).

Aqui, um estranho clipe de Unsquare Dance para a TV americana:

Comentários

Meu orgulho êsse minino! Pena que não vai tocar bateria comigo numa quarta lá no Atelier do Jú...

Abração ritmista palmeirense.

Ricardo
Dagomir Marquezi disse…
Eu sô humirde! Mas se você me levar eu vou e toco.

Abração do amigo porco

Dagomir

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