Eu e Paulo Nogueira (*1956 - +2017)


Conheci Paulo Nogueira na redação da Veja, em 1983. Eu era o comentarista de cinema, ele era o comentarista de livros. Achei o cara muito divertido, e acho que a impressão foi mútua. Mas durou pouco. Eu saí da revista em poucos meses e fui me aventurar na televisão.

Por 13 anos eu não falei com ele. Aí inventaram o e-mail. Eu era leitor fiel da revista Exame, onde o Paulo era diretor de redação. Mandei uma mensagem em 1996 elogiando a revista, ele respondeu. Por um ano trocamos mensagens cada vez mais aprofundadas sobre temas fundamentais. O que deveria ser o jornalismo do século 21?

Em 1997 o Paulo me chamou para fazer uns frilas na Abril. Em outubro me contratou em condições muito generosas para ser editor senior da VIP, sob comando do grande Marco Antonio Rezende como chefe de redação. E teve início ali uma década de ouro da minha vida profissional.

Paulo Nogueira me deu toda a liberdade e estímulo para fazer o que eu absolutamente quisesse. Tive liberdade de horários, escolhi as revistas onde colaborei. Ele estava na frente, e desprezava as velhas convenções da vida corporativa. Em troca, cumpri minha promessa de explorar novos caminhos para a imprensa. Criei cyber-folhetins, passei um dia na jaula de um zoológico, fingi que era parte do Jota Quest, escrevi roteiro de quadrinhos, refleti sobre a revolução tecnológica. Tudo com a benção do Paulo. Que me chamava de Daggy Boy.

No final desse período, o Paulo se mudou para a editora Globo - e me chamou de novo. Mas o ambiente lá estava bem conturbado e minha experiência não foi tão bem sucedida quanto na Abril. Nosso último encontro profissional foi um almoço no seu querido Senzalinha, onde conversamos sobre minha possível participação no site Diário do Centro do Mundo. Lá eu percebi que a gente estava habitando planetas diferentes. Não rolou.

Mas a amizade nunca foi abalada por qualquer diferença. Nem a admiração mútua. Chegamos a tocar música algumas vezes, juntando uma banda fictícia chamada Os Nogueiras Plus - Paulo na guitarra, o irmão Kiko no baixo, o filho Emir na outra guitarra e eu na bateria.

Paulo Nogueira deve ter sido um dos últimos proficcionais da imprensa brasileira com coragem e decisão para mudar as coisas, reinventar o jornalismo, ousar em territórios não explorados. E eu tive a honra e o orgulho de ser seu parceiro nesse grande momento da editora Abril. Que com a saída do Paulo perdeu o oxigênio da inventividade. O jornalismo brasileiro em geral passou a viver alguns dos seus anos mais burocráticos, perdidos e desinteressantes.

Agora ele se foi. Boa sorte, Paul Boy. Serei sempre grato a você.


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