Duas lições
Continuo fissurado em "filmes velhos", pré-1960. É um vicio, uma viagem a um universo paralelo. Mas assisti dois filmes atuais neste fim de semana que poderiam servir de lição a todos os que querem fazer cinema de verdade no Brasil. Tá legal, não tão atuais assim, mas atualíssimos para quem acabou de assistir um filme de 1929.O primeiro foi Little Miss Sunshine. Não preciso dizer o quanto ele é bom. A grande lição está no fato dele ter custado o ridículo orçamento de 8 milhões de dólares. Pegue um excelente roteiro (de Michael Arndt). Entregue esse roteiro a excelentes atores. Eles se entusiasmam com o que leram e topam fazer o filme. Com essa garantia, os produtores conseguem o financiamento. O próximo passo é o Oscar e os milhões de dólares de retorno para um próximo filme. Assim se faz cinema.
O segundo filme foi Obrigado Por Fumar. Aí está uma excelente comédia, inteligente sobre assuntos altamente polêmicos. Eu acho um absurdo a permissividade social com um vicio que envenena quem está ao redor de um cigarro. Pois este filme coloca um galã bonitão (Aaron Eckhart), simpático, irresistível e ótimo pai como um lobista da indústria do tabaco. Eu queria que ele fosse horrível, asqueroso, o pior dos pais. Mas ele não é. E você pode discordar de tudo o que ele fala, mas ele te convence que tem o direito a uma opinião. Ou temos o fim da liberdade. Obrigado por fumar ataca todo mundo, fumantes e não-fumantes. É o anti-panfleto.
São duas grandes lições para um país onde o cinema continua corrompido pela esmola estatal e apegado muitas vezes ao mofado panfletarismo de 40 ou 50 anos atrás.


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