Injustificável

Não existe trabalho mais bem remunerado (e carregado de responsabilidade) para um escritor profissional do que a autoria da novela "das oito" da rede Globo. Eu tenho idade para ter visto a fase de ouro do gênero, com autores c0mo Braulio Pedroso, Dias Gomes, Lauro Cesar Muniz, Janet Clair e outros.

No tempo em que um Braulio Pedroso escrevia uma novela complexa, original e extremamente difícil como O Rebu, ele devia ganhar num mês o que os atuais novelistas ganham num dia. E escrevia sozinho!

Por isso me parece injustificável e inaceitável que o senhor Gilberto Braga, que já escreveu obras primas como Dancing Days e O Dono do Mundo, apareça com Paraíso Tropical, que estreou na segunda-feira para o bocejo geral da nação. Braga teve três anos para preparar sua novela. Cercou-se de um batalhão de colaboradores.

Paraíso Tropical é uma mistura de velhíssimos clichês (empresários histéricos e sádicos, as prostitutas baianas de Jorge Amado, vôos de helicóptero sobre o Rio, a visão caricatural e ofensiva da classe média, a demagogia com os pobres). Não tem qualquer traço de originalidade, criatividade, e paixão na redação do script.

Tenho mil críticas a fazer ao recem-terminado Páginas da Vida, de Manoel Carlos. Mas ela tinha personalidade, tinha uma função. E se fazia rir pelo ridículo de muitas cenas sérias, também fazia chorar pelas razões certas. Paraíso Tropical é preguiçosa e sem alma. Feita por quem sabe que o salarião está garantido desde que se mantenha um mínimo de audiência e interesse na midia especializadas.

A cara do Brasil atual.