Aguinaldo Silva comenta minha coluna
Aguinaldo Silva além de escrever a novela Duas Caras, mantém um animado blog onde comenta a própria obra. Antenado como seu Juvenal, ele leu a coluna sobre ele que escrevi para a revista Época. E comentou a minha coluna no seu blog. Segundo ele, seu próximo post vai aprofundar o comentário.
Estou reproduzindo abaixo não só a coluna da Época como os comentários do Aguinaldo. Ficou um post meio longo, mas acho que vale a pena.
Escrito por Aguinaldo Silva em:22/1/2008
VIVER É MUITO ARRISCADO, Ô ZÉ RUELAS!
Sob o título de “a grande ousadia de Aguinaldo Silva” o jornalista Dagomir Marquezzi publicou uma critica sobre DUAS CARAS na revista Época. Peço licença a ele para reproduzir aqui o seu artigo, não porque seja favorável à novela, mas sim porque no meu próximo post acrescentarei algumas informações ao que Dagomir Marquezzi escreve.
Aí vai:
Epa, epa, epa, epa! Muita calma nessa hora! Justamente Duas Caras está sendo uma agradável surpresa. Quando eu soube que o centro dramático da novela estaria numa favela, previ o pior. Temi falsidade ideológica, no pior sentido da expressão.
Só que o povo criado por Aguinaldo Silva não parece uma categoria sociológica. Parece gente. Tudo bem, a Portelinha é uma fantasia utópica criada nos estúdios do Projac. Mas consegue ter cheiro de realidade.
Na Portelinha tem pobre bom e pobre ruim. Pobre ambicioso e pobre acomodado. Pobre batalhador e pobre vagabundo. Pobre estudioso e pobre ignorante. Pobre fino e pobre cafajeste. Assim é o povo real, diversificado, como os ricos e os remediados.
A favela de Duas Caras é alegre, colorida e simples. Ninguém fala de política, ninguém culpa “o sistema”. Os “idealistas” são garotos da classe A implorando uma chance de filmar a favela para limpar suas consciências.
Duas Caras começou mal (40 no Ibope) e caiu ainda mais. Hoje navega alguns pontos acima dos 40. Não é um “estouro” como outras obras do autor. E isso só valoriza a coragem de Aguinaldo Silva.
Aqui estão seis razões para cumprimentar o autor:
1) Aguinaldo Silva emplaca Lázaro Ramos como o primeiro galã negro nos quase 45 anos de telenovela brasileira. Negão e favelado. Não entrou no elenco via cota racial. Entrou porque, antes de ser negro, interpreta um bem construído personagem.
2) O maniqueísmo não tem moleza
3) Mesmo no terreno do romance, Aguinaldo Silva está sendo ousado. Não é à toa que os primeiros capítulos da novela focaram tanto a história de Maria Paula e Adalberto. Ali está um casal realmente pervertido: a angelical heroína é perdidamente apaixonada pelo homem que destruiu sua vida.
4) Nunca a realidade da universidade brasileira foi mostrada de forma tão sincera, com sua parcela de professores parasitas resistindo às reformas modernizantes do reitor Macieira. Nunca nenhuma obra de ficção antes no Brasil retratou o “movimento estudantil” como ele costuma ser: autoritário, reacionário, bitolado.
5) Ele não só baniu a Igreja Católica da Portelinha. Aguinaldo ainda cometeu a ousadia de apresentar a igreja evangélica com simpatia. Foi além – mostrou uma bela convivência entre evangélicos e a ala afro da favela.
6) Aguinaldo Silva foi o primeiro autor a se comunicar diretamente com seu público. Além de enfrentar a barra-pesada de escrever a novela, ele a comenta no blog e dá uma lida nos comentários que chegam às centenas. Essa é uma nova realidade para os escritores do século XXI. É irônico este Brasil de 2008. Nossa obra mais alternativa acabou sendo a novela das 8.
Eu escrevi lá em cima que no meu próximo post ia acrescentar algumas informações ao artigo de Dagomir Marquezzi. Mas a informação mais importante eu já antecipo. Recordista de audiência eu já sou seus Zé Ruelas, pois “Senhora do Destino”, quatro novelas depois, continua imbatível com seus 50.5.
Comentários
Parabéns. Beijos.
O autor puxar o saco do patrão da pra entender, afinal, esta escrevendo para a Época... que é da Globo.
Mas como pode, um jornalista, teóricamente um formador de opiniões, considerar elogiável uma proprietária de Universidade esbofetear, em público, a ganhadora da bolsa de estudos da entidade, porque esta era amante de seu falecido marido?
Pobreza, mal gosto e falta de educação.
Quanto a Lázaro Ramos... porque colocá-lo como protagonista? Só porque ele é negro? Não. Está na moda. Vende. E depois, é o único galã negro disponível no momento. Isto sim é discriminação.
Apelo homossexual: também está na moda. Um homem que diz amar uma mulher, mas não fica com ela só porque esta não é um homem, não aspira um amor. Aspira um pênis.
Pesado, não?
É o que o público da TV aberta tem que engolir, pois lhe é enfiado à força guela abaixo.