Vavá, o Peito de Aço
Segunda feira, dia 12 de novembro de 1934 o Recife ouviu os berros de seu novo cidadão, Edvaldo Izídio Neto. E que berros! O moleque Edvaldo chorou alto, forte, avisando ao mundo que tinha chegado. Ainda criança passou pelo América do Recife. Passou também aquele time com a fama (e o orgulho) de ser o pior do mundo – o Íbis. Aos 15 anos Edvaldo já era o Vavá, meia armador do Sport, campeão dos juniores.
Quando passou para o time principal o técnico Gentil Cardoso encontrou o lugar certo para o garoto: centro avante rompedor, sem medo de zagueiro. O “peito de aço”. 1,74 metros de altura, 75 quilos, atarracado, cara de sertanejo. Não tinha medo de bola dividida. Era dono da chamada “inteligência tática”. Ou seja, mesmo sem uma técnica muito refinada, ele sabia o que fazer no campo. E cabeceava bem.
Depois de dois anos de Sport, Vavá foi para o Rio. Estreou pelo Vasco da Gama na penúltima rodada do Carioca de 1951. Se o Vasco empatasse com o Bangu e desse empate no Fla-Flu do dia seguinte, Vavá seria campeão com um único jogo. Vavá entrou em campo, marcou o único gol do jogo. No dia seguinte Flamengo e Fluminense empataram. Foi isso. Edvaldo estreou campeão. E ainda daria muitas alegrias em São Januário na conquista do carioca de 1956 e no Rio-São Paulo de 1958. No seu último jogo marcou os 3 gols contra o São Cristóvão, um deles de bicicleta, lá da meia lua. A torcida gritava: “Fica! Fica! Fica!”
Foi convocado para a Copa da Suécia de 1958. Começou por baixo, como reserva de Mazzola. No segundo jogo já era titular. Marcou 5 gols em 6 partidas e virou símbolo da raça brasileira. Entre outras façanhas enfiou dois gols na seleção soviética defendida pelo quase imbatível goleiro Yashin, o “Aranha Negra”. No final marcou dois gols contra a Suécia aproveitando as armações de Didi e os cruzamentos de Garrincha.
Já era um astro da área adversária e foi vendido pelo Vasco para o Atlético de Madri. Passou 3 anos na Espanha. Voltou como um dos mestres da lendária Academia de Futebol do Palmeiras. Foram anos de glória, jogando um pouco mais recuado, como “garçon” do artilheiro Servílho. Ganhou pelo Palestra o Paulista de 1963 ao lado acadêmicos ilustres como Ademir da Guia, Julinho Botelho, Valdemar Carabina, Djalma Dias Djalma Santos e Zequinha.
Com tudo o que conseguiu nos anos dourados do Parque Antártica, Vavá é mais lembrado hoje como uma espécie de jogador símbolo da Seleção Brasileira. Afinal, ele também brilhou no bicampeonato do Chile, em 1962. É considerado o único jogador a fazer gols em dois finais de Copa do Mundo. No total, jogou pela seleção 23 vezes com a impressionante marca de 14 gols. Ganhou o apelido de “Leão da Copa”. Seu aproveitamento é marcante: 19 vitórias, 3 empates, 1 derrota – 87 por cento.
De 1964 a 1969 Vavá viveu no exterior, jogando no México (América e Toros Naza), Espanha (Elche) e EUA (San Diego Toros). A aposentadoria veio na modesta Portuguesa do Rio. Chegou a ser auxiliar técnico de Telê Santana na Copa da Espanha em 1982.
Aos 67 anos Vavá vivia com dignidade no Rio de Janeiro. No dia 16 de janeiro de 2002 foi internado na Clínica São Victor, na Tijuca com insuficiência cardíaca. Três dias depois, faleceu. O Peito de Aço está sepultado no Cemitério do Catumbi.
Este é um dos capítulos do livro
Mortos Vivos do Futebol, disponível pela Amazon.
Vavá, the Chest of Steel
On Monday, November 12, 1934, Recife (in Brazil) heard the screams of its new citizen, Edvaldo Izídio Neto. And what screams! The young Edvaldo cried loudly, loudly, letting the world know that he had arrived. As a child, he played for América do Recife. He also played for the team that had the reputation (and pride) of being the worst in the world – Íbis. At 15, Edvaldo was already Vavá, the playmaker for Sport, the junior champion.
When he moved to the main team, coach Gentil Cardoso found the right place for the boy: a center forward who could break through, unafraid of defenders. The “steel chest”. 1.74 meters tall, 75 kilos, stocky, with a country boy’s face. He wasn’t afraid of the ball being divided. He had what is known as “tactical intelligence”. In other words, even without a very refined technique, he knew what to do on the field. And he headed the ball well. After two years at Sport, Vavá went to Rio.
He made his debut for Vasco da Gama in the penultimate round of the 1951 Carioca Championship. If Vasco had tied with Bangu and tied the Fla-Flu match the following day, Vavá would have been champion in just one game. Vavá entered the field and scored the only goal of the game. The next day, Flamengo and Fluminense tied. That was it. Edvaldo made his debut as champion. And he would also bring much joy to São Januário in winning the 1956 Carioca Championship and the 1958 Rio-São Paulo Championship. In his last game, he scored all 3 goals against São Cristóvão, one of them with a bicycle kick from the half-moon. The fans chanted: “Stay! Stay! Stay!”
He was called up for the 1958 World Cup in Sweden. He started out as a reserve for Mazzola. In the second game, he was already a starter. He scored 5 goals in 6 matches and became a symbol of Brazilian spirit. Among other feats, he scored two goals against the Soviet team, defended by the almost unbeatable goalkeeper Yashin, the “Black Spider”. In the end, he scored two goals against Sweden, taking advantage of Didi’s plays and Garrincha’s crosses.
He was already a star in the opposing penalty area and was sold by Vasco to Atlético de Madrid. He spent 3 years in Spain. He returned as one of the masters of the legendary Palmeiras Football Academy. Those were years of glory, playing a little further back, as a “waiter” for the top scorer Servílho. He won the 1963 Paulista Championship with Palestra alongside illustrious academics such as Ademir da Guia, Julinho Botelho, Valdemar Carabina, Djalma Dias Djalma Santos and Zequinha.
With everything he achieved in the golden years of Parque Antártica, Vavá is best remembered today as a kind of symbolic player of the Brazilian National Team. After all, he also shone in Chile's second World Cup title in 1962. He is considered the only player to have scored goals in two World Cup finals. In total, he played for the national team 23 times, scoring an impressive 14 goals. He earned the nickname “Lion of the World Cup”. His performance is remarkable: 19 wins, 3 draws, 1 loss – 87 percent.
From 1964 to 1969 Vavá lived abroad, playing in Mexico (América and Toros Naza), Spain (Elche) and the USA (San Diego Toros). He retired at the modest Portuguesa do Rio. He even became Telê Santana's assistant coach at the 1982 World Cup in Spain.
At 67 years old, Vavá lived with dignity in Rio de Janeiro. On January 16, 2002, he was admitted to the São Victor Clinic in Tijuca with heart failure. Three days later, he died. Chest of Steel is buried in Catumbi Cemetery.
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