O iluminado

Acabei de ler a biografia de Stanley Kubrick escrita por John Baxter. Infelizmente ela está meio desatualizada, e termina durante a longa filmagem de De Olhos bem Abertos, ainda coberta em segredos. O retrato que fica é um enigma. Kubrick era um genio do cinema e um diretor-ditador que infernizava a vida de todos os que trabalhavam com ele. A dúvida: se ele não exercesse tanto poder faria os filmes que fez? Seria tão bom como foi se tivesse uma equipe enxuta, baixo orçamento e data de entrega?

Nunca saberemos, pois o caminho foi o oposto. Quanto mais ele filmava, mais prestígio tinha, mais maníaco se tornava, mais poder ganhava. Jack Nicholson acertava na primeira tomada em O Iluminado, mas Kubrick mandava que repetisse a mesma cena mais de cem vezes. Colocava tantas luzes em seus sets que provocou pelo menos um incêndio em cada filme. Mantinha suas equipe e seus elencos em estado de pânico, sempre descontente com tudo o que era feito. Telefonava para salas de cinema ao redor do mundo exigindo projeções perfeitas.

Era um homem gelado, calculista, indiferente ao sofrimento alheio. (Malcom McDowell reclamou que uma de suas córneas havia sido arranhada durante uma cena de Laranja Mecânica e que estava doendo muito. "Não tem problema", respondeu Kubrick. "Eu foco no outro olho") Ao mesmo tempo era um homem de familia, culto , bem informado e ligado nos grandes temas do seu tempo.

Hoje esses detalhes desaparecem quando assistimos obras-primas como Glória Feita de Sangue, Lolita, Dr Strangelove, 2001, Laranja Mecânica, Barry Lyndon, Full Metal Jacket. Infelizmente Kubrick - um fanático por novas tecnologias áudio-visuais - se foi antes de ter a chance de ver sua obra em BluRay. Fico imaginando 2001 Uma Odisséia no Espaço numa sala IMAX.

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